terça-feira, 6 de novembro de 2007

Reflexões pré aniversario, uma carta a uma amiga.

Oi amiga,

Eu poderia te escrever um e-mail, mas quero que esta mensagem te pegue de surpresa. Antes ia te falar por telefone, mas por sorte não consegui, de modo que o que sinto escolheu um caminho mais lirico para se expressar.

Sabe, amada, ler suas palavras de manhã, compartilhar do seu grito de liberdade e alegria sufocado me trouxe uma certa tristeza e uma certa esperança. Tristeza pelo momento dificil, esperança por saber que neste mesmo momento você segue obstinada em sua essência, sem se deixar adoecer, sem se anestesiar perante o mundo de exigências, mesquinharias, falsidades e desamor.

Eu que andava recolhendo as minhas esperanças, encontrei um punhado delas. Encontrei em musicas, em atitudes, no fazer e no não fazer.

Olhei no espelo e me vi envelhecido. Uma mecha de cabelos brancos crescida no alto de minha testa, um olhar que não tinha mais certeza do que iria fazer em seguida. Lancei um olhar critico sobre a figura do espelho: terá sentido esta minha vida? O tempo gasto em aprendizado, o tempo gasto em diversão, o tempo dedicado ao trabalho, a sonhos que mudam de posição o tempo todo?

Quando a gente abandona o caminho que os outros escrevem para a gente, fica essa sensação de andar no escuro. As vezes um tanto faz seguir por um lado ou pelo outro: sempre tem um pensamento que vai apoiar e outro que vai negar... Crescer? Conservar a inocência? Trabalhar e construir? Curtir a vida com intensidade? Vivê-la sem pressa? Um carrão ou um carrinho? Tesão ou carinho? Paixão ou amor?

Eu olho e vejo as tantas coisas que quero mudar, mas não consigo. Ouço as pessoas me dizendo para me cuidar mais, para comer mais devagar, para emagrecer. Ouço uma voz que reconheço como a minha me pedindo para mudar o mundo, para me engajar em (mais) uma causa. Volto a Oriah: porque é tão raro eu querer ser quem eu realmente sou ao invés de querer ser quem eu quero ser? Até porque quem eu quero ser muda tanto...

Mas quem tem amigos não se perde, não corre o risco de enlouquecer. Essa teia de amor que nos mantem colados pela responsabilidade que temos: de manter a energia circulando entre nós, porque a todo momento podemos fazer a diferença na vida das pessoas, o que já é uma causa e tanto.

Foi um dia bom, de reflexão interna, preguiça e auto-indulgencia pela manhã, uma boa reunião de trabalho à tarde (uma dose de o gordo e o magro em um novo e bom cliente) e de telefonemas para pessoas queridas, ouvindo boas noticias, reatando laços.

Percebi que as mudanças na vida têm de seguir devagar. Pequenos passos, pequenos esforços possiveis. Seguir em um ritmo constante rumo a nós mesmos.

Decidi o que farei no meu aniversário: vou passar o fim de semana com minha família. Pedir uma comida boa para minha mãe, pedir a companhia da minha irmã, sobrinha e cunhado, curtir o meu velho herói que retornou da obliteração. Não quero muito mais que isso: conviver e contar histórias, sem TV e sem computador.

Eu sei que você me compreende, porque também tem o coração alado, que como eu talvez sofra mais que os outros. Mas lembre-se que a gente também ama com mais intensidade por não viver num permanente outono, no crepusculo sem fim de quem escolhe uma vida mais ou menos. A gente guarda essa memória de quando voava de mãos dadas com os anjos, ouvindo a música das esferas. E se olhar através da dor, enxerga essa... nostalgia de tempos anteriores ao nosso nascimento. Com ela a ternura de saber que no momento certo retornaremos ao nosso lar, enriquecidos por nossa experiência, felizes por termos passado tantos momentos especiais de mãos dadas ou de corações conectados apesar da distância.

A cada dia encontro um pedaço de mim nos outros. Hoje foi a sua vez de contribuir para um pouco de mim, eu que em meus mergulhos vez por outra me despedaço.

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