segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Trote do sequestro

Olha só o lance bizzarro que me aconteceu.

Tou dormindo o sono dos justos quando o telefone me acorda. Vou lá, me arrastando quenem zumbi de filme de terror até pegar o telefone.

- Chamada a cobrar, para aceitá-la continue na linha após a identificação
- Alo?
- Ai... pai... ai... pai... entraram aqui em casa...

Eu lá com sono, acho estranho a minha mãe me chamar de pai, mas respondo, já resmungando por conta da fragilidade da segurança lá de casa.

- Hã? O que? Levaram alguma coisa? Se acalma, quer que eu vá praí?
- Eles estão aqui, estão armados.

Ai eu pensei, chi... que merda, mais uma pra resolver (misteriosamente eu fico super calmo em situações como assaltos, acidentes, ataques de cachorro... como disse uma vez Andrew Cox, um americano que conheci "It´s a good guy to be around in a crisis" (é um cara bom de se ter por perto em uma crise).

Muda a pessoa ao telefone.

- Alô, se acalme. Nós estamos aqui por motivo de fuga, você tem um celular, por medida de segurança?

Meus cérebro ainda estava dando boot, mas 50% dos meus neurônios já estavam organizados. O celular seria uma forma interessante de verificar se era um trote. Caprichei na voz de sono:

- Há, eu meu celular tá sem bateria. O que que vocês querem?
- Essa pessoa é o que sua?
- É minha mãe.
- Então, nós estamos aqui por motivo de fuga, precisamos de 10.000 reais.

Começo a discar no celular o numero de casa.

- Eu não tenho 10 mil aqui comigo, aliás não tenho nada aqui em dinheiro.
- Quanto você poderia dispor abaixo de 10 mil?

O telefone de casa toca. O cerebro a 75%. Eu fico corajoso.

- Mas pera aí, como está a minha mãe?
- Aqui quem faz as perguntas sou eu, obedece senão eu queimo a cara dela.

O telefone em casa atende. Vivi com voz de sono. Falo pra ela:

- Vivi, tá tudo bem aí?
- Hã? Tudo.
- É que eu tou recebendo um trote aqui, dizendo que estão com a mãe. A mãe tá aí?
- Tá, tá tudo bem.
- Ok, foi um trote apenas. Tchau.

Volto para o telefone, o cerebro a 100%, sem disposição para dar corda aos bandidos:

- Poizé, cara, acabei de falar com a minha mãe. Não deu certo desta vez.
- Ah, não deu certo...
- Poizé, não deu, tchau.

Desliguei, sentei no sofá, calmo e desperto. Fui vendo as falhas.
  • Não precisariam ligar a cobrar da casa de meus pais
  • Não me perguntariam do celular, que a minha mãe tem
  • Saberiam que eu era o filho dela, e mencionariam o nome dela entre outras coisas
  • Minha mãe não me chama de pai, e sim de filho
E no fim fico pensando que, com um pouco mais de cérebro, um curso de teatro e acesso ao orkut esse pessoal poderia fazer um estrago muito maior, usando os tais principios da engenharia social.

É pra ficar esperto mesmo. O mundo fica cada dia mais complexo.

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