Liberdade sempre foi um tema de conversas e reflexões pra mim. Mas por algumas razões o tema veio com força estes dias.
Sempre me movi em direção à liberdade, construindo minha autonomia financeira com a empresa e pessoal a partir das minhas escolhas.
Como consequencia de todo este movimento, alcancei uma primeira liberdade. A possibilidade de ir e vir pra onde quiser, morar só, me libertar do conceito de pecado, do medo do inferno, me relacionar com tribos diferentes.
Posso ficar trabalhando em casa em uma manhã de segunda, encerrar o expediente às duas da tarde ou ir tomar um chocolate quente às três da madrugada. Assistir nu a um filme na sala de casa.
Essa primeira liberdade, de trabalho, de crença, de movimento, emoção e de pensamento é fundamental pra se reconhecer quem a gente é. É dessa liberdade que fala a vida simples deste mês que passou. Liberdade de ir para qualquer direção, de aprender o que quiser. O processo que consiste em descobrir o que nos amarra e cortar estas cordas.
Liberdade... a maior de todas as prisões.
Porque? Se a gente pensar um pouco, é fácil ver que podemos ficar viciados em liberdade, ou amarrados a ela. Cortamos as raizes, nos tornamos seres alados, alheios à terra.
Mas o quanto é real uma liberdade que não nos permite escolher os laços ou compromissos? Se eu não posso escolher fazer um curso à noite para não perder a liberdade, o quanto sou realmente livre? Ter todos os amigos do mundo não seria exatamente não ter nenhum amigo de verdade?
O que me chamou para este raciocínio foi a reportagem "Obama, o conciliador" da revista Piauí. Barack Obama, candidato a candidato a presidente dos EUA vem de uma familia onde o pai e a mãe tiveram movimentos diferentes de deixar as cidadezinhas do interior americando seguindo em direção à liberdade oferecida pelas grandes cidades, indo parar no Hawaii. Os pais de obama se casaram (cada qual teve casamentos anteriores) e se separaram, deixando apenas filhos perplexos.
Obama fez um caminho inverso: voltou para o continente, se estabeleceu na cidade, casou-se com uma mulher de uma familia integrada à comunidade local, tornou-se pastor.
E na reportagem: algumas provocações:
"Quanto todo mundo é da família, ninguém é da familia".
É isso, precisamos nos diferenciar. Soltos na cidade, quem somos nós? Qual é a nossa identidade perdidos no mar de gente? Precisamos construir a nossa rede, escolher os amigos, escolher as raizes e viver as tradições negras.
"O universalismo é uma ilusão. A liberdade, no final das contas, não passa de uma forma de abandono. Você pode começar largando a religião, depois os pais, a sua cidade, o seu povo e o seu modo de vida. Mais tarde, quando você acaba largando a mulher ou o marido e os filhos, isso vem a lhe parecer o resultado de uma progressão natural"
Talvez seja esta a minha jornada do herói, talvez seja essa uma liberdade mais verdadeira: sair pelo mundo, deixar para trás toda a vida que era programada para mim e escolher voluntariamente, conscientemente e com convicção cada pedacinho do caminho que eu quero.
Fui à igreja com meus pais na quinta passada, comemorar uma grande vitória do meu pai-herói. Me emocionei, me fez bem. Dar as mãos por um momento com uma egrégora, com um grupo que nunca reconheci totalmente como meu e que desta vez fez mais sentido. Cantar e bater palmas ao lado da minha irmã, mãe e sobrinha, cantar palavras de alegria e fé com a familia teve um significado além das palavras.
Ai está, entre uma ilusão de liberdade absoluta e cega e um aprisionamento igualmente cego, existe uma liberdade verdadeira, conduzida pela luz da consciência, algo pessoal que cabe a quem quiser vivê-la o esforço para descobrí-la.
Talvez esta seja mais uma das minhas voltas em torno do óbvio, mas colocar estes pensamentos aqui sempre me ajudam a elucidar as minhas questões.
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Um comentário:
Gil querido, amei suas reflexões! Como sempre, aliás :)
Fiquei muito tocada pela forma brilhante com que vc tem trilhado seu caminho do herói, vencendo monstros e dragões, plantando amizades e profundos afetos, percebendo a beleza de cada momento... está pegando a trilha do sábio! Beijão, Gil! Cyn
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