domingo, 10 de agosto de 2008

Alforria

Vasco José Monteiro
Lamarquiana Monteiro


Pra te proteger te pus correntes,
me armei assim, como as serpentes.
Tolhi teu destino, apaguei teus sonhos
só pra poder ter-te junto a mim.

Agi como se fosse um menino,
fazendo teu corpo meu brinquedo,
te ofereci ao deus do medo,
te sacrifiquei tão cedo
quanto me apaixonei.

Aparei-te, enfim, todas as arestas,
te seguia pelas frestas,
como se fosses fugir

E me debruçava na janela
contemplando-te tão bela
quanto uma orquídea em flor

Nós fomos seguindo minha estrada.
Eu, o teu senhor, tu minha escrava.
Nos delírios cultivando o ócio,
e colhendo um amor fóssil,
sem matiz e sem sabor

Mas foste soltando as amarras,
conquistando nossa liberdade.
E o que eu mais temia, sua alforria,
foi também a nossa redenção.

Hoje bailamos ao vento.
O tempo é um rebento
que acaba de vir à luz.
E tu brotaste rainha,
a musa que me seduz.

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